sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Impresiones sobre Uruguay : punto de vista de un portugués








Do blog do José Luis Peixoto (http://bravonline.abril.com.br/blog/joseluispeixoto/):


Uruguai




PRIMEIRAS IMPRESSÕES



14 horas fechado num avião é muito tempo. Sobretudo para quem vai num dos bancos do meio, nem à janela e nem no corredor, com os cotovelos a tentarem uma disputa inglória pelos braços da cadeira. Esta seria toda a história do meu voo entre Paris e Buenos Aires (com a memória de um voo entre Lisboa e Paris, com a perspectiva de um voo entre Buenos Aires e Montevideo), se não fossem as coincidências, o acaso. Ainda no aeroporto Charles De Gaulle, na fila da alfândega, ouço o meu nome. Também a dirigir-se para Buenos Aires, estava a minha linda amiga Lola Arias, autora argentina a viver em Berlim. A conversar de pé no corredor (nenhum dos nossos “vizinhos” estava disposto a mudar de lugar) subtraímos 2 ou 3 horas ao desconforto dessa viagem que, em muitos momentos, pareceu infinita. Após 4 horas de espera no aeroporto de Buenos Aires e um voo de pouco mais de meia hora, cheguei a Montevideo. Já tinha ouvido falar bastante na cidade e no país. Normalmente, quando as pessoas falam do Uruguai, comparam-no com a Argentina e, normalmente, perde na comparação. Desta maneira, conhecendo bem a beleza invulgar de Buenos Aires, tinha expectativas moderadas em relação a Montevideo. Pelos padrões de Portugal, a capital do Uruguai é uma cidade que aparenta pobreza: muitos edifícios em ruínas, desorganização urbanística, um número considerável de pessoas sem abrigo a vaguear pelas ruas, estradas em mau estado, algum lixo, carros velhos. Se aliarmos este cenário a uma tarde escura, de vento e chuva gelada, temos as primeiras imagens que retive do centro de Montevideo. No dia seguinte, felizmente, chegou o sol e aconteceu algo que mudou tudo: comecei a conhecer alguns uruguaios. A luz é fundamental, ilumina. Da mesma maneira que o sol procura as cores mais garridas por baixo das paredes mal pintadas, das chapas enferrujadas dos automóveis, também os sorrisos (ainda mais) destacam cores em tudo. Os uruguaios que conheci são invulgarmente simpáticos, a esforçarem-se sempre para que os visitantes (eu) estejam à vontade. Além disso, mesmo a caminharem nas ruas, esquecidos do mundo, distingue-se bondade nos seus rostos. Compreendo o carácter subjectivo (e potencialmente naif) desta afirmação, mas é sincera, é a que melhor encontro para explicar o que tenho visto por aqui. E ainda bem que se existem esses sorrisos, esses olhares ternos (verdadeiramente ternos) porque amenizam bastante o ambiente geral. Com graça e pertinência, um europeu que vive há alguns anos no Uruguai, contava-me que se costuma dizer o seguinte: “Buenos Aires é como Paris há 40 anos atrás. Assunción, no Paraguai, é como Madrid há 40 anos atrás. Montevideo é como Montevideo há 40 anos atrás.”




FEIRA DO LIVRO DE SAN JOSÉ

Já com o tempo a reflectir a Primavera que por aqui começa, parti para San José, a cento e qualquer coisa quilómetros da capital. O Uruguai tem cerca de um terço da população portuguesa e tem um território que é cerca do dobro de Portugal. Praticamente metade da população vive na capital e arredores. As outras cidades são bastante menores e o interior está povoado, essencialmente pelas grandes, imensas extensões de gado. San José tem cerca de 40 mil habitantes. A chegada é feita por um cenário de ruas não pavimentadas e casas com aspecto clandestino. A feira do livro acontece no centro da cidade, na praça central, em alguns edifícios e tendas, estando a parte mais substancial da mesma situada no Club Social – uma espécie de associação recreativa, bem à portuguesa, com mesas de bilhar, jogos de futebol na televisão (o Uruguai jogou contra o Gana em sub 21), etc. Nesse lugar, existem talvez umas dez bancas com livros. As edições em exposição são muito diversas: desde os livros publicados pelas grandes editoras espanholas até aos livros com formato de caderno, capas moles e impressão a lembrar o antigo stencil. Por todos os espaços, centenas de crianças. Desde os 3/4 anos, agarrados a uma corda comum, para não se perderem, até adolescentes agarrados uns aos outros. Se o valor dos livros varia com a avidez com que são procurados, os livros da Feira de São José são muito, muito valiosos. Os alunos passavam em multidões, vestidos com batas brancas iguais às dos enfermeiros, com fitas de várias cores a formarem laços, a quererem ver tudo.




O MEU LIVRO




Meia hora antes da apresentação, vi o meu livro pela primeira vez. “Historias de Nuestra Casa” foi o título que encontrei para esta edição que junta os contos de “Cal” com “Morreste-me”. Para mim, o momento em que vejo um livro meu pela primeira vez, mesmo que seja uma tradução, é muito comovente. Neste caso, foi ainda mais tocante porque, lá dentro, no “Morreste-me”, está o nome do meu querido pai e, no “Cal”, estão os nomes dos meus queridos padrinhos e avó. Além disso, estão aquelas palavras, que, neste caso, ganham a pronúncia do espanhol uruguaio; está toda uma promessa de futuro e de vida que me transcende largamente e que, no entanto, em alguma medida, partiu de mim. Claramente sob o efeito dessa emoção, falei um pouco desses livros para uma sala com cerca de 80/100 pessoas, maioritariamente adolescentes. Foi espontâneo, natural e lindo. Sou um privilegiado por me ser dada a oportunidade de viver momentos como esse que aconteceu no final da tarde de ontem. Os uruguaios são muito físicos. Eu também. Os homens cumprimentam-se com beijos e, no fim da apresentação de “Historias de Nuestra Casa”, houve vários que vieram beijar-me. Nenhum saiu sem ser beijado de volta. Em especial, houve uma mulher de 86 anos que me quis dar um beijo e um abraço, que me quis dizer algumas palavras que não esqueço. Se tiverem oportunidade, aconselho-vos a abraçarem a sério pessoas dessa faixa etária. Somos seres humanos.




MARINA COLASANTI


Entre o público da apresentação, estava a escritora brasileira e doce amiga Marina Colasanti. Desde que nos conhecemos na Ilha da Madeira, há uns 7 ou 8 anos, temo-nos cruzado nos lugares mais insuspeitos deste globo. Não vai ser nestas linhas que vou conseguir exprimir a admiração e o carinho que sinto por esta mulher que nasceu, imagine-se, na Etiópia (algum dia teremos de nos encontrar também por lá...), mas queria referir esse olhar brilhante que, ontem, para mim, acrescentou felicidade à felicidade.




JANTAR PORTUGUÊS


A noite, terminou com rissóis de camarão e bacalhau com natas. Alunos de hotelaria de San José deslocaram-se a Montevideo para aprenderem com a cozinheira da residência da embaixadora de Portugal no Uruguai. Acho que sim. Não sou um especialista em bacalhau, mas se tivesse de avaliá-los, passavam todos. Ainda assim, a surpresa dessa noite portuguesa (para mim) foi o acompanhamento musical. Andres Stagnaro é um uruguaio, apaixonado pela poesia e pelos cantautores portugueses. Com a sua viola, ofereceu aos presentes temas do seu último CD, no qual canta poetas portugueses em espanhol e poetas uruguaios em português. Esteve em Portugal há um mês a dar alguns concertos e pretende regressar em Abril próximo para voltar a tocar onde o quiserem receber. Se, por acaso, tiverem interesse de contactá-lo para uma actuação, deixem expresso o vosso interesse e um email na caixa de comentários. E nós, portugueses, ficamos sempre surpreendidos por estas pessoas que gostam de nós. Não pedem nada em troca e gostam de nós. E logo de nós que, tantas vezes, quase sempre, não conseguimos gostar de nós próprios.






Extracto del blog del Escritor José Luis Peixoto, escritor y dramaturgo portugués.

Breve biografia :

José Luís Peixoto




Nasceu em Setembro de 1974 em Galveias (Portalegre). Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas, na variante de Inglês e Alemão, pela Universidade Nova de Lisboa.


Em 2000, estreou-se com a pequena ficção Morreste-me (Prémio Jovens Criadores 97), publicada em edição de autor. Nesse mesmo ano, publicou o romance Nenhum Olhar (Prémio José Saramago 2001). Publicou ainda A Criança em Ruínas (poesia, 2001), Uma Casa na Escuridão (romance, 2002), A Casa, a Escuridão (poesia, 2002), Antídoto (prosa, 2003) e Cemitério de Pianos (prosa, 2006).


Tem textos publicados em inúmeras revistas portuguesas e estrangeiras. Assina colunas permanentes em várias publicações portuguesas e estrangeiras.Os seus romances estão publicados em 12 idiomas.




1 comentário:

  1. Tristes "impresiones".
    No solo denuncian ignorancia como tambien mala intencion.
    Será que este señor estubo en uruguay?
    Si Montevideo se ve como él dice que se ve necesitara ir a un oculista o a un psiquiatra porque esta viendo cosas que no existen!!!!

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